segunda-feira, 3 de março de 2008

O Beijo

Da janela do ônibus pensava naquele beijo. E não era um beijo de amor. Na verdade, de amor era... O que eu quero dizer é que não foi um beijo na boca, daqueles de língua. Foi um simples beijo na sua bochecha.
Sim, simples, mas inesperado. Aquele beijo significava tanta coisa! Um beijo bêbado, despretensioso, passional.
E aí pensava em toda a humanidade. Em como era bom e até necessário ser humano. Pensou em como teria sido o primeiro beijo. Que metáfora linda se criou com o primeiro beijo!
Pensou então que hoje beijo era caro. Caro que digo raro. Não que beijar seja necessariamente raro, mas tudo parece tão conveniente que nos esquecemos da essência de tudo.
Da janela do ônibus viu aquele menino que pedia no sinal. Devia ter uns 5 anos que sempre o via no mesmo lugar. Será que, por entre as doações, alguém já teria se lembrado de um beijo?
E aí então pensou em como era bom doar-se. Melhor até que receber. Ele sempre tinha ouvido essa conversa, mas sempre achou conversa fiada. Agora compreendia bem.
Era claro: doar-se, como beijar, era melhor que receber. E com um pouco de psicologia chegou até a entender porque as pessoas choram quando estão felizes de verdade. E fazia tanto tempo que ele não chorava de verdade!
Imaginou então “será que todos choram de verdade?”. Isso porque achava o mundo, sei lá, tão sofrido.
Da janela do ônibus via o mundo. Passando. Veloz.