segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Indago Vago

De onde nasce a sobrevida de quem pensa que morreu?
Seria da vida que inda resta?
Seria do mal que já doeu?

Onde mora essa esperança que um belo dia se escondeu?
Nesse infinito mar de guerras?
Ou nesse sol que emudeceu?

Há quem creia, há quem conteste
E há outros, como eu,
Que não sabem nem o que vestem
Quanto mais do oculto, o breu

Há quem ore, há quem reze
Há quem peça e há, como eu,
Quem agradeça em solitária prece
Pelas fraquezas que Deus nos deu

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

À Frente do Nariz

A desconfiança que nele reina
É uma faca de dois gumes
Tem dias que rola e se deita
Tem dias que forma de medo assume

Traz a ele aquele tempo
Em que tudo era maior
Em que tudo era perfeito,
Ou talvez era, e só.

O tempo da infância
Que de repente ficou para trás
Que de repente virou lembrança
De uma embaçada, oculta, mentirosa paz

E nada mais a traz de volta a ele
Nessa viagem só de ida
Cujo destino é desconhecido,
Cuja estrada é desimpedida

Deixa ele ir pra nunca mais voltar
Aonde ele pensa que vai dar
O caminho à frente de seu nariz
Aonde ele pensa que vai ser feliz

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

No dia em que eu morrer

No dia em que eu morrer,
Lá do céu, quero olhar pra baixo
Ver todo mundo exausto
Ao meu túmulo, cabisbaixo
Chorando, sentindo tanto a minha falta

No dia em que eu morrer,
E não puder mais ter contigo
Quero, enfim, ser-te importante
Dentro de ti sentir abrigo
Ser a saudade, a culpa, a dor,
A incurável asia
Dentro do estômago de quem não se lembrava que eu existia

No dia em que eu morrer,
Não quero algo diferente,
Quero o mais triste e longo dos enterros
Olhar pra baixo e sentir pena de mim mesmo
Como sempre,
Para sempre